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Coeur d'un ami

By segunda-feira, dezembro 05, 2011 , , , ,


O quarto estava uma bagunça, garrafas vazias de vodka no chão, cinzas de cigarro para todos os lados. A cortina deixava entrar um fiapo de sol que batia exatamente nos olhos de Julie que a acordava contra a sua vontade.
Por impulso se sentou na cama e a tontura junto com a forte dor na cabeça a fizeram deitar novamente. As lembranças da noite anterior vinham devagar a atormentar, a sua festa de despedida foi alem do que imaginava, só se viu no meio de um apartamento apertado lotado de roqueiros bêbados quando era tarde de mais.
Ela levantou dessa vez devagar e foi direto pra cozinha botando água para ferver, precisa de um café forte. Procurava no meio da bagunça algum pobre cigarro sobrevivente, não encontrou.
A água ferveu e automaticamente ela fez o café e colocou na xícara que encontrou em cima do armário, pegou duas aspirinas na segunda gaveta e se sentou na janela depois de abrir o que faltava das cortinas.
As aspirinas se misturavam com o café na sua boca. O telefone começou a tocar, ela se levantou devagar por causa da tontura que insistia em atormentá-la. Pegou o aparelho antigo azul no meio de guardanapos e o tirou do gancho soltando um grande suspiro ao ver quem era do outro lado, Connor aquele seu antigo amigo com a voz grossa que a fazia ficar mais meiga e tímida do que já era.
Ela rodou a pilastra que se encontrava no meio de seu apartamento, enrolando nela os fios do telefone. Ela andava chutando as almofadas e os copos vazios para longe, falando besteiras com ele, como sempre.
Connor disse que já vinha para ajudá-la com a bagunça da qual ela nem mesmo se importava. Desenrolou o fio do telefone da parede e do seu dedo, botando um sorriso no rosto ao deixar o telefone na mesa e já com o frio na barriga de ficar a espera dele.
Ela voltou para a janela, mas não se sentou como antes apenas pegou de volta a xícara e se sentou à mesa perto da cozinha, ao lado do sofá, de frente para a porta de entrada que seria por onde ele entraria. Tirou as três garrafas vazias da mesa junto com os cigarros pela metade, achou ali uma folha limpa de papel e colocou na maquina a sua frente.
Os dedos de Julie deslizavam pelas teclas daquela maquina com se já tivessem decorado cada milímetro dela.  As palavras fluíam como os seus pensamentos, o sol se abaixou e ela se dependurou na cadeira para trás fazendo o relógio da cozinha entrar em seu campo de visão.
17 horas e 23 minutos. Estava tarde, o seu avião sairia daqui a 37 minutos do dia de amanha e ainda nem tinha começado a fazer as malas, Connor achava que era porque ela não queria ir, Julie achava que era porque ela não conseguia parar de escrever.
Mas, ela estava errada e ele certo, do jeito que sempre fora. Ela era teimosa de mais para admitir e ele ignorante de mais para deixá-la se safar. E era por isso que os dois davam certo, como amigos, claro.
Afinal quem esses dias pensava em amor? Ela com certeza não, isso só existia em historias como essa que ela pontuava agora. Já ele havia sofrido de mais para acreditar em qualquer coisa alem daquilo que ela escrevia.
Era complicado sim, a vida era. Não era em vão que ela tinha decidido se mudar.
Os pensamentos dela se perderam por minutos, e ela os direcionou de novo para maquina a sua frente. Passava a mão nervosamente em seu cabelo curto bagunçado, batia um dos pés no pé da mesa, o telefone tocou de novo.
Ela se levantou preguiçosamente e se dirigiu a ele pela segunda vez, era Connor de novo. Ele perguntava o que ela queria para o jantar, ela o deixou escolher só exigiu aquele seu cigarro favorito que ele já conhecia e muito bem. O telefone foi colocado na mesa com o mesmo sorriso e com passos largos voltou à mesa para acabar antes da chegada dele.
Julie colocou o ultimo ponto final, Connor bateu a campainha, e em algum lugar no mundo em uma esquina qualquer de um bairro qualquer de um país qualquer, alguém morreu. Não que eles se importem.
Ela tomou o ultimo gole do café que sem nem mesmo ela perceber já havia esfriado. O coração dele bateu uma vez, o dela bateu duas e assim eles estavam juntos de novo, se despedindo com abraços eternos, com olhares encorajadores e com palavras cheias de promessas a serem cumpridas.
Ela pegou o cigarro antes da comida e ele preparou a mesa para o jantar deles, o ultimo naquele lugar. Julie andava pulando e cantando atrás dele segurando um saco preto de lixo enquanto ele colocava as coisas lá dentro, ate o saco ficar pesado de mais, e as posições se trocarem.
Eles riam de algo desconhecido, falavam frases incompletas com o sentido certo e logo o apartamento estava habitável de novo, e eles poderiam sentar e comer e curtir a ultima noite que teriam juntos por um bom tempo.
Mais um longo abraço, e ela pediu para ele nunca a deixar ou a esquecer e ele fez disso mais uma promessa. Ele a deixou com a certeza que se encontrariam novamente e ela com lagrimas nos olhos tinha a mesma certeza, só não sabia ainda como conseguiria viver sem os cuidados dele.
No final, parecia que tudo tinha acabado, mas a verdade era que tudo só estava começando e eu, apenas uma amadora dramática tive a certeza que dessa historia sairia um final felizes e sabia também que não seria nem preciso escrevê-lo para ele se tornar realidade. 

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