Coeur d'un ami
O quarto estava uma bagunça, garrafas vazias de vodka no
chão, cinzas de cigarro para todos os lados. A cortina deixava entrar um fiapo
de sol que batia exatamente nos olhos de Julie que a acordava contra a sua
vontade.
Por impulso se sentou na cama e a tontura junto com a forte
dor na cabeça a fizeram deitar novamente. As lembranças da noite anterior
vinham devagar a atormentar, a sua festa de despedida foi alem do que
imaginava, só se viu no meio de um apartamento apertado lotado de roqueiros
bêbados quando era tarde de mais.
Ela levantou dessa vez devagar e foi direto pra cozinha
botando água para ferver, precisa de um café forte. Procurava no meio da
bagunça algum pobre cigarro sobrevivente, não encontrou.
A água ferveu e automaticamente ela fez o café e colocou na
xícara que encontrou em cima do armário, pegou duas aspirinas na segunda gaveta
e se sentou na janela depois de abrir o que faltava das cortinas.
As aspirinas se misturavam com o café na sua boca. O
telefone começou a tocar, ela se levantou devagar por causa da tontura que
insistia em atormentá-la. Pegou o aparelho antigo azul no meio de guardanapos e
o tirou do gancho soltando um grande suspiro ao ver quem era do outro lado,
Connor aquele seu antigo amigo com a voz grossa que a fazia ficar mais meiga e tímida
do que já era.
Ela rodou a pilastra que se encontrava no meio de seu
apartamento, enrolando nela os fios do telefone. Ela andava chutando as
almofadas e os copos vazios para longe, falando besteiras com ele, como sempre.
Connor disse que já vinha para ajudá-la com a bagunça da
qual ela nem mesmo se importava. Desenrolou o fio do telefone da parede e do
seu dedo, botando um sorriso no rosto ao deixar o telefone na mesa e já com
o frio na barriga de ficar a espera dele.
Ela voltou para a janela, mas não se sentou como antes
apenas pegou de volta a xícara e se sentou à mesa perto da cozinha, ao lado do sofá,
de frente para a porta de entrada que seria por onde ele entraria. Tirou as três
garrafas vazias da mesa junto com os cigarros pela metade, achou ali uma folha
limpa de papel e colocou na maquina a sua frente.
Os dedos de Julie deslizavam pelas teclas daquela maquina
com se já tivessem decorado cada milímetro dela. As palavras fluíam como os seus pensamentos, o
sol se abaixou e ela se dependurou na cadeira para trás fazendo o relógio da
cozinha entrar em seu campo de visão.
17 horas e 23 minutos. Estava tarde, o seu avião sairia
daqui a 37 minutos do dia de amanha e ainda nem tinha começado a fazer as
malas, Connor achava que era porque ela não queria ir, Julie achava que era
porque ela não conseguia parar de escrever.
Mas, ela estava errada e ele certo, do jeito que sempre
fora. Ela era teimosa de mais para admitir e ele ignorante de mais para
deixá-la se safar. E era por isso que os dois davam certo, como amigos, claro.
Afinal quem esses dias pensava em amor? Ela com certeza não,
isso só existia em historias como essa que ela pontuava agora. Já ele havia
sofrido de mais para acreditar em qualquer coisa alem daquilo que ela escrevia.
Era complicado sim, a vida era. Não era em vão que ela tinha
decidido se mudar.
Os pensamentos dela se perderam por minutos, e ela os
direcionou de novo para maquina a sua frente. Passava a mão nervosamente em seu
cabelo curto bagunçado, batia um dos pés no pé da mesa, o telefone tocou de
novo.
Ela se levantou preguiçosamente e se dirigiu a ele pela
segunda vez, era Connor de novo. Ele perguntava o que ela queria para o jantar,
ela o deixou escolher só exigiu aquele seu cigarro favorito que ele já conhecia
e muito bem. O telefone foi colocado na mesa com o mesmo sorriso e com passos largos
voltou à mesa para acabar antes da chegada dele.
Julie colocou o ultimo ponto final, Connor bateu a
campainha, e em algum lugar no mundo em uma esquina qualquer de um bairro qualquer
de um país qualquer, alguém morreu. Não que eles se importem.
Ela tomou o ultimo gole do café que sem nem mesmo ela
perceber já havia esfriado. O coração dele bateu uma vez, o dela bateu duas e
assim eles estavam juntos de novo, se despedindo com abraços eternos, com
olhares encorajadores e com palavras cheias de promessas a serem cumpridas.
Ela pegou o cigarro antes da comida e ele preparou a mesa
para o jantar deles, o ultimo naquele lugar. Julie andava pulando e cantando atrás
dele segurando um saco preto de lixo enquanto ele colocava as coisas lá dentro,
ate o saco ficar pesado de mais, e as posições se trocarem.
Eles riam de algo desconhecido, falavam frases incompletas
com o sentido certo e logo o apartamento estava habitável de novo, e eles
poderiam sentar e comer e curtir a ultima noite que teriam juntos por um bom
tempo.
Mais um longo abraço, e ela pediu para ele nunca a deixar ou
a esquecer e ele fez disso mais uma promessa. Ele a deixou com a certeza que se
encontrariam novamente e ela com lagrimas nos olhos tinha a mesma certeza, só
não sabia ainda como conseguiria viver sem os cuidados dele.
No final, parecia que tudo tinha acabado, mas a verdade era
que tudo só estava começando e eu, apenas uma amadora dramática tive a certeza
que dessa historia sairia um final felizes e sabia também que não seria nem preciso
escrevê-lo para ele se tornar realidade.
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Luiza.