Personalidades do espelho.
Ela entrou as pressas em casa, foi direto ao banheiro com
lagrimas nos olhos e uma dor que chagava a ser maior do que ela. Jogou as
roupas no chão, tirou os brincos de perola, o seu anel da sorte, o colar com
pingente em forma de estrela e se encarou no espelho.
A imagem que aparecia ali, não era certa. As lagrimas
decidiram sair do seu olho e borrar toda a maquiagem pela bochecha a fora, ela
lavou tudo naquela água gelada da pia, tudo aquilo a que escondia.
Ela se olhou no espelho novamente, estava do mesmo jeito que
era antes, apenas uma mulher problemática que odiava a tudo e a todos,
principalmente a si mesma. Ela via agora, aquela que ela tentou encobrir,
aquela que ela tinha vergonha, a imperfeita.
‘Loucura é uma doença, a pior das doenças’ dizia a sua mãe, e
ela tinha razão, o que ela não sabia é que todos tinham essa doença. E foi essa
doença que matou a sua mãe, aquele seu primeiro namorado e que a estava
matando. E a pior parte, é que ela não se importava, gostava de ser louca, pelo
menos assim ela se sentia sendo si mesma.
Veio rápido, foi embora mais rápido ainda e conseguiu causar
um estrago que nunca teria concerto. Um sentimento que todos julgavam ser bobo
se transformou em uma depressão sem final, em uma loucura sem limites, em uma
vida destruÃda.
Ela abriu a primeira gaveta a direita, tirou seu vidro de remédios,
tomou um ali sentindo ele descer pela garganta e esperando chegar logo a sua
cabeça e a fazer melhorar, não agüentava mais, nunca agüentou. Sem querer o
vidro de remédios escorregou de sua mão e se espatifou em milhões de pedaços
bem diante dos seus pés, em um barulho fora do normal, com uma precisão duvidosa
e uma perfeição que apenas ela enxergava.
Não ligou para os pequenos cortes nos pés, para a sujeira do
chão, para a sua imagem ainda paralisada no espelho, para a vida, para a
loucura e muito menos para o que iria fazer.
Ela apenas desejou que estivesse nevando, mesmo estando no verão.
Desejou poder ver os sons e ouvir as cores, imaginando as coisas lindas que ela
descobriria. Desejou poder voar, mas não alcançar o céu para ainda se
impressionar com as coisas na terra. Desejou ser livre, ser louca e não doente.
Andou ate o quarto cortando os pés ao andar, deixando a sua
imagem presa no espelho, gravada em sua mente, digna de pesadelos. Foi ate o
quarto se deitou na cama e lá permaneceu, olhando o teto, dormindo e esperando.
Olhava para a porta imaginando ele ali com seu sorriso bobo,
mas as imagens da sua própria vida ainda a atormentavam, não conseguia imaginar
aquilo que nunca aconteceria. Sentia frio de mais, um frio absurdo, nevava em
sua cabeça ela achou.
Esperou pelo que pareceram anos, ou horas e ninguém apareceu,
a loucura não a matou e a sua doença não foi realmente descoberta, sempre
escondida a sete chaves. E nada aconteceu, nunca sonhou, nunca pareceu realmente
dormir, o teto do seu quarto era sempre inalcançável e a sua cabeça estava
sempre cheia das suas personalidades do espelho.
Ninguém apareceu, ninguém nunca apareceria. E sabe por quê? Ninguém
liga para aqueles que já estão mortos.
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Luiza.