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Tardes tristes.

By segunda-feira, março 05, 2012

   Meus saltos altos faziam um barulho irritante a cada passo, um toc toc alto de mais que chama uma atenção desnecessária para mim e meus olhos vermelhos. Aquelas paredes brancas me davam nojo, a cada corredor que eu virava via pessoas correndo me deixavam tonta. De uma coisa é certa, a coisa que eu mais odeio no mundo é hospitais.
  As portas passavam tão rápido que eu pensei estar perdida, mas eu já tinha ido ali muitas vezes para saber com precisão qual era o quarto certo. Entrei sem bater sabia que ninguém ali se incomodaria.
  Me sentei ao lado dele, e fiquei o observando dormir e quis que ele acordasse logo, não agüentava mais eu precisava dele. Eu estava perdida ali, precisava dele ao meu lado. Senti meus olhos se encherem de novo, era assim toda vez que eu me sentava naquela cadeira e eu já estava cansada de mais.
  Eu contei do meu dia para ele, me impedindo de chorar e querendo que ele se atualizasse do que se passava na minha vida, ele sempre ficava ansioso de mais para saber. No meio da interessante historia sobre o preço do café aumentando uma enfermeira entrou no quarto, sorriu para mim e começou a fazer o seu trabalho.
  Ela mexia em tubos e media coisas e eu me senti intrusa ali, atrapalhando. Sai porta a fora procurando um lugar para me abrigar onde não tinha tanto branco. Uma porta marrom me chamou a atenção e eu fui ate lá me deparando com uma igreja.
  Um homem chorava sentado em um dos bancos da frente e uma idosa mais atrás estava ajoelhada com as mãos no rosto. Eu entrei encantada pelo clima pesado do lugar, tentando imaginar o que estava se passando na vida daquelas duas pessoas, evitando ao máximo pensar na minha própria vida.
  Me sentei no ultimo banco e encarei o altar, e sem nem mesmo perceber eu estava conversando na minha cabeça com alguém, não podia dizer que era mesmo Deus pois eu tinha as minhas duvidas. As lembranças de todo aquele mês me atormentaram, e toda a dor que eu tentava guardar lá no fundo do meu ser de repente saiu, como se todo meu esforço fosse em vão.
  Cai de joelhos ali no chão daquela capela banhada de lagrimas, rezando para quem quisesse ouvir, pedindo de todo coração para que me trouxesse ele de volta, que não deixasse morrer, que me desse forças para continuar ali do lado dele como ele sempre esteve do meu.
  Pelo canto do olho eu vi a idosa e o homem virados para mim, não havia me dado conta de que estava chorando tão alto, mas eu não me importei, de certa forma era bom finalmente largar toda aquela dor no chão frio, na espera de um milagre.
  Quando finalmente me acalmei, levantei do chão dando um sorriso para a velinha que ainda me encarava, me dirigi novamente para o quarto dele, sentando na mesma cadeira, olhando para os mesmos olhos fechados.
  Coloquei a minha mão sobre a sua que estava tão gelada, olhei para o relógio na parede e vi que já estava tarde, mas me matava para continuar ali, passar mais algumas horas do meu dia olhando para o seu rosto e sentindo saudades.
  O barulho irritante que saia das maquinas era reconfortante, diferente do barulho que meus saltos faziam, esse simples barulho me dava à certeza que seu coração estava batendo e que ele ainda não havia desistido e que eu continuaria esperando por ele, rezando.
  -Eu sinto a sua falta pai.
  Eu disse apertando a sua mão, dando um beijo em sua testa e saindo daquele quarto, encarando novamente as paredes brancas nojentas, me irritando com os meus sapatos e mesmo assim não vendo a hora de vir novamente semana que vem. 

* ' Doí saber que nada impede ele de me ligar, de me procurar ou simplesmente me mandar lembranças. As vezes eu queria que ele estivesse morto, ai ele teria uma desculpa por ter me deixado.'
Eu achei isso escrito em uma agenda velha minha, e essa ideia para texto veio na minha cabeça... 

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