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Balançando.

By terça-feira, novembro 15, 2011 , , ,

                      pretentious and pop

 Estava tarde, não fazia sol e nem chovia, o dia nublado acabava sendo mais lindo que um dia ensolarado. Eu como em qualquer outra tarde não fazia nada, o tédio era tão grande que a minha respiração compassada e lenta se mostrava mais interessante que as rápidas e precisas batidas de meu coração.
  O telefone tocou e eu contra a minha vontade me obriguei a levantar e com passos lentos e de certo modo sofridos, cheguei à mesinha empoeirada no fundo da sala, ao lado do sofá encardido que cheirava a mofo. Atendi com um simples “Alô” impaciente a pessoa que estava do outro lado da linha desligou pela minha demora. Bufei de raiva pelo esforço em vão.
  Cansada daquele degrau frio de entrada (onde eu me encontrava sentada minutos antes), eu passei direto por eles pulando no ultimo por uma felicidade sugestivamente enganosa. Andava calmamente pela grama recém aparada do jardim da minha casa que por fora parecia um grande palácio, mas como dizem as aparências enganam, dentro da casa de minha avó é tudo tão velho, mofado, mal cuidado, escuro e por fim assustador. 
  Minha idade era certamente pouca para minha avó me deixar sozinha em casa todos os dias, mas nos precisávamos de comida e para isso ela precisava trabalhar. Dês de quando meus pais foram expulsos do país por imigração ilegal, eu tive que ficar com minha avó que já era imigrante legal. Como minha vó possuía a minha guarda, eu de certa forma me tornava imigrante legal como ela. Eu sentia saudades deles, dos meus pais.
  Aquela grama pinicava meus pés descalços e sem realmente tomar a decisão eu me sentei no balanço e devagar fui balançando para frente e para trás em um ritmo vicioso que por instantes fez meu estômago revirar.
  Eu olhava o céu cada vez mais perto de mim e na sequência ficava longe novamente, esse vai e vem me deixou tonta e mesmo assim eu não parei. Gostava do vento em meu cabelo, da sensação de estar quase voando, de ser grande e alcançar tudo.
  Era estranho como aquele balanço conseguia contar tanta coisa da minha vida, ele era a minha filosofia, sempre chegando perto do céu, mas nunca o alcançando. Não é tão deprimente como se imagina é a verdade, a minha verdade.
  Eu ia cada vez mais rápido e mais alto e temia por instantes cair, mas o frio na barriga era uma sensação tão boa e subjetiva. 
  Uma das poucas nuvens que se encontrava no céu parecia estar carregada de chuva que não iria cair, outra nuvem estava clara e branca, parecendo aqueles algodões doces que todos comentam, essa nuvem chamava o sol novamente. E as duas brigavam pelo o seu lugar no céu, e eu assistia essa briga de camarote mesmo sem torcer para ninguém.
  Ouvi carros chegando à rua e entrando na garagem, dei uma ultima balançada e fui tão alto que pensei ter realmente voado e chegado ao céu que era o meu grande sonho impossível. Nesse momento eu rezei, o que não fazia há muito tempo. Eu rezei para Deus trazer os meus pais de volta, eu rezei para ele dar o bem aqueles que eu amava e por fim rezei pedindo para que ele me levasse ao céu, para que ele me tornasse um anjo.
  Pulei do balanço correndo para dentro de casa fingindo nunca ter saído de lá e com esperança de que tudo ia ficar melhor, se Ele não fizesse, eu faria.

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