Balançando.
Estava tarde, não
fazia sol e nem chovia, o dia nublado acabava sendo mais lindo que um dia
ensolarado. Eu como em qualquer outra tarde não fazia nada, o tédio era tão
grande que a minha respiração compassada e lenta se mostrava mais interessante
que as rápidas e precisas batidas de meu coração.
O telefone tocou e
eu contra a minha vontade me obriguei a levantar e com passos lentos e de certo
modo sofridos, cheguei à mesinha empoeirada no fundo da sala, ao lado do sofá
encardido que cheirava a mofo. Atendi com um simples “Alô” impaciente a pessoa
que estava do outro lado da linha desligou pela minha demora. Bufei de raiva
pelo esforço em vão.
Cansada daquele
degrau frio de entrada (onde eu me encontrava sentada minutos antes), eu passei
direto por eles pulando no ultimo por uma felicidade sugestivamente enganosa.
Andava calmamente pela grama recém aparada do jardim da minha casa que por fora
parecia um grande palácio, mas como dizem as aparências enganam, dentro da casa
de minha avó é tudo tão velho, mofado, mal cuidado, escuro e por fim
assustador.
Minha idade era
certamente pouca para minha avó me deixar sozinha em casa todos os dias, mas
nos precisávamos de comida e para isso ela precisava trabalhar. Dês de quando
meus pais foram expulsos do país por imigração ilegal, eu tive que ficar com
minha avó que já era imigrante legal. Como minha vó possuía a minha guarda, eu
de certa forma me tornava imigrante legal como ela. Eu sentia saudades deles,
dos meus pais.
Aquela grama
pinicava meus pés descalços e sem realmente tomar a decisão eu me sentei no
balanço e devagar fui balançando para frente e para trás em um ritmo vicioso
que por instantes fez meu estômago revirar.
Eu olhava o céu cada
vez mais perto de mim e na sequência ficava longe novamente, esse vai e vem me
deixou tonta e mesmo assim eu não parei. Gostava do vento em meu cabelo, da
sensação de estar quase voando, de ser grande e alcançar tudo.
Era estranho como
aquele balanço conseguia contar tanta coisa da minha vida, ele era a minha filosofia,
sempre chegando perto do céu, mas nunca o alcançando. Não é tão deprimente como
se imagina é a verdade, a minha verdade.
Eu ia cada vez mais rápido e mais alto e temia por instantes cair, mas o frio na barriga era uma sensação tão boa e subjetiva.
Uma das poucas
nuvens que se encontrava no céu parecia estar carregada de chuva que não iria
cair, outra nuvem estava clara e branca, parecendo aqueles algodões doces que
todos comentam, essa nuvem chamava o sol novamente. E as duas brigavam pelo o
seu lugar no céu, e eu assistia essa briga de camarote mesmo sem torcer para
ninguém.
Ouvi carros chegando
à rua e entrando na garagem, dei uma ultima balançada e fui tão alto que pensei
ter realmente voado e chegado ao céu que era o meu grande sonho impossível.
Nesse momento eu rezei, o que não fazia há muito tempo. Eu rezei para Deus
trazer os meus pais de volta, eu rezei para ele dar o bem aqueles que eu amava
e por fim rezei pedindo para que ele me levasse ao céu, para que ele me
tornasse um anjo.
Pulei do balanço
correndo para dentro de casa fingindo nunca ter saído de lá e com esperança de
que tudo ia ficar melhor, se Ele não fizesse, eu faria.
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