À beira do abismo.
Eu gostaria de me
fazer acreditar que a vida vale à pena. Gostaria de dizer que tenho sonhos e
que corro atrás para que eles se realizem. Eu gostaria de entrar nessa
cafeteria – da qual eu entro todos os dias- e perceber que uma única pessoa se
virou para me olhar.
E aqui eu estou
novamente, passando correndo pelas portas de vidro e entrando em um ambiente
totalmente diferente, inundando meu nariz com o cheiro do café e deixando toda
aquela chuva pra atrás.
E nenhuma pessoa se
quer, olhou para a garota pequena que acabara de tropeçar nos próprios pés enquanto
se encaminhava ate o balcão. Ao contrario deles eu examinei cada rosto, alguns
conhecidos e outros totalmente novos, e como de costume eu imaginei historias
para aqueles rostos, os fazendo personagens principais e dando diversos nomes
aleatórios, pois eu sabia que nunca saberia os verdadeiros nomes.
Eu gostaria de me
apaixonar. Gostaria de ter algo para qual lutar. Eu gostaria de ser o mundo
para alguém. E gostaria também de entregar meu coração para esse alguém sem
querer nada em troca.
Fracassar no amor,
na carreira, nas amizades e em tudo que eu podia dizer que trazia a minha
felicidade é ate então a única coisa que eu consigo fazer. Uma completa estranha, aquela viciada em café
que é totalmente descartável para o mundo. Que ninguém se importa.
Eu queria ver o
quanto à vida pode ficar bonita quando se esta amando. Queria que alguém
segurasse a minha mão quando eu estiver prestes a cair, queria ter um ombro
para me apoiar e alguém para me dizer ‘eu te amo’ todas as noites e todas as
manhas. E a única coisa que eu posso realmente querer é que essa chuva passe,
pois eu já me atrasei o suficiente.
E quando ela finalmente passou, eu digo a
chuva, porque a dor já se fundiu em mim e prometeu que nunca me deixaria. E eu
ate gostava dela, às vezes é melhor sentir dor do que não sentir nada.
Eu sai da cafeteria
quente e entrei novamente no caos das ruas, das pessoas correndo e do cheiro inconfundível
de solidão. Eu já estava cansada dessa rotina, de não ser ninguém de acordar
todos os dias querendo que fosse o ultimo.
Eu gostaria de
desistir. Gostaria de poder jogar as mãos para o alto e deixar tudo cair. Eu
gostaria de poder virar agora para Deus ou quem quer que seja que controle o
destino e dizer que a minha historia já acabou e esta na hora de começar outra,
uma outra qualquer que não me envolva.
Eu sempre sonhei que
eu morria em meu sono, que sonharia coisas lindas e em um final perfeito nunca mais
abriria meus olhos, que eu estaria velha e realizada. Se ao menos eu
conseguisse me tornar metade da mulher que eu sonhei em ser, não precisaria
estar agora pegando um caminho diferente.
Caminho que me levou
a um hotel qualquer alto o bastante para me imaginar tocando as estrelas, meus
pés batucavam no ritmo da minha musica preferida no elevador a minha felicidade
era absurda e eu estava a amando.
Não olhei ao redor
do quarto, não queria me decepcionar, joguei a bolsa no chão, coloquei o copo
de café na escrivaninha depois de dar um bom gole, desamarrei os meus cabelos,
tirei os sapatos e o casaco. Olhei janela a fora e vi o mundo aos meus pés e
gritei. E não foi um simples grito, eu despejei tudo aquilo que estava dentro
de mim em palavras surdas, em um barulho horrível.
Eu contei a minha
historia para quem quisesse ouvir, perturbei os pássaros que não tinham nada a
ver com a minha dor, espantei a chuva e fiz aquele vendo frio soprar mais forte
ainda, tão forte que quando eu coloquei o primeiro pé no parapeito da janela
quase cai para trás.
Segundos depois foi
o outro pé e eu estava ali a mercê de um abismo, prestes a jogar a minha vida fora
e nem mesmo ligando para isso. Eu estava finalmente feliz, de um modo doentio,
claro, mas feliz de um jeito que eu sempre quis ser. E eu passei a pensar que
talvez aqueles sonhos fossem apenas ilusões e que eu meu verdadeiro futuro
fosse isso, acabar aqui e agora.
Eu suspirei uma vez,
duas vezes e a terceira vez foi cortada por um grito que dessa vez não saiu da
minha boca, uma mulher lá em baixo apontava o seu dedo tremulo para mim e então
em questão de segundos eu era o centro das atrações todos me olhavam temendo
pela vida de alguém que nunca faria importância na vida deles.
Finalmente eu fui notada,
nas ultimas batidas de meu coração alguém finalmente me deu importância, todos
os olhos estavam em mim e agora não sou eu que imagino historias e nomes para
eles, é a vez deles de imaginar a minha historia e tentar adivinhar os motivos de
eu estar à beira do abismo.
Apenas mais um
passo, um único passo e eu serei livre. Minha ultima respiração, a ultima
batida de coração, os últimos pensamentos idiotas, o ultimo pedido de misericórdia.
O meu ultimo e primeiro sorriso verdadeiro.
Eu
gostaria de ter coragem o bastante, de ter esperança.
Gostaria de ter feito tudo diferente.
Eu gostaria de mudar o passado e fazer o
futuro diferente.
Gostaria de poder
viver, mas minha morte já foi escrita.
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Luiza.