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À beira do abismo.

By segunda-feira, abril 09, 2012 , , , , ,

   

  Eu gostaria de me fazer acreditar que a vida vale à pena. Gostaria de dizer que tenho sonhos e que corro atrás para que eles se realizem. Eu gostaria de entrar nessa cafeteria – da qual eu entro todos os dias- e perceber que uma única pessoa se virou para me olhar.
  E aqui eu estou novamente, passando correndo pelas portas de vidro e entrando em um ambiente totalmente diferente, inundando meu nariz com o cheiro do café e deixando toda aquela chuva pra atrás.
  E nenhuma pessoa se quer, olhou para a garota pequena que acabara de tropeçar nos próprios pés enquanto se encaminhava ate o balcão. Ao contrario deles eu examinei cada rosto, alguns conhecidos e outros totalmente novos, e como de costume eu imaginei historias para aqueles rostos, os fazendo personagens principais e dando diversos nomes aleatórios, pois eu sabia que nunca saberia os verdadeiros nomes.
  Eu gostaria de me apaixonar. Gostaria de ter algo para qual lutar. Eu gostaria de ser o mundo para alguém. E gostaria também de entregar meu coração para esse alguém sem querer nada em troca.
  Fracassar no amor, na carreira, nas amizades e em tudo que eu podia dizer que trazia a minha felicidade é ate então a única coisa que eu consigo fazer.  Uma completa estranha, aquela viciada em café que é totalmente descartável para o mundo. Que ninguém se importa.
  Eu queria ver o quanto à vida pode ficar bonita quando se esta amando. Queria que alguém segurasse a minha mão quando eu estiver prestes a cair, queria ter um ombro para me apoiar e alguém para me dizer ‘eu te amo’ todas as noites e todas as manhas. E a única coisa que eu posso realmente querer é que essa chuva passe, pois eu já me atrasei o suficiente.
  E quando ela finalmente passou, eu digo a chuva, porque a dor já se fundiu em mim e prometeu que nunca me deixaria. E eu ate gostava dela, às vezes é melhor sentir dor do que não sentir nada.
 Eu sai da cafeteria quente e entrei novamente no caos das ruas, das pessoas correndo e do cheiro inconfundível de solidão. Eu já estava cansada dessa rotina, de não ser ninguém de acordar todos os dias querendo que fosse o ultimo.
  Eu gostaria de desistir. Gostaria de poder jogar as mãos para o alto e deixar tudo cair. Eu gostaria de poder virar agora para Deus ou quem quer que seja que controle o destino e dizer que a minha historia já acabou e esta na hora de começar outra, uma outra qualquer que não me envolva.
  Eu sempre sonhei que eu morria em meu sono, que sonharia coisas lindas e em um final perfeito nunca mais abriria meus olhos, que eu estaria velha e realizada. Se ao menos eu conseguisse me tornar metade da mulher que eu sonhei em ser, não precisaria estar agora pegando um caminho diferente.
  Caminho que me levou a um hotel qualquer alto o bastante para me imaginar tocando as estrelas, meus pés batucavam no ritmo da minha musica preferida no elevador a minha felicidade era absurda e eu estava a amando.
  Não olhei ao redor do quarto, não queria me decepcionar, joguei a bolsa no chão, coloquei o copo de café na escrivaninha depois de dar um bom gole, desamarrei os meus cabelos, tirei os sapatos e o casaco. Olhei janela a fora e vi o mundo aos meus pés e gritei. E não foi um simples grito, eu despejei tudo aquilo que estava dentro de mim em palavras surdas, em um barulho horrível.
  Eu contei a minha historia para quem quisesse ouvir, perturbei os pássaros que não tinham nada a ver com a minha dor, espantei a chuva e fiz aquele vendo frio soprar mais forte ainda, tão forte que quando eu coloquei o primeiro pé no parapeito da janela quase cai para trás.
  Segundos depois foi o outro pé e eu estava ali a mercê de um abismo, prestes a jogar a minha vida fora e nem mesmo ligando para isso. Eu estava finalmente feliz, de um modo doentio, claro, mas feliz de um jeito que eu sempre quis ser. E eu passei a pensar que talvez aqueles sonhos fossem apenas ilusões e que eu meu verdadeiro futuro fosse isso, acabar aqui e agora.
  Eu suspirei uma vez, duas vezes e a terceira vez foi cortada por um grito que dessa vez não saiu da minha boca, uma mulher lá em baixo apontava o seu dedo tremulo para mim e então em questão de segundos eu era o centro das atrações todos me olhavam temendo pela vida de alguém que nunca faria importância na vida deles.
  Finalmente eu fui notada, nas ultimas batidas de meu coração alguém finalmente me deu importância, todos os olhos estavam em mim e agora não sou eu que imagino historias e nomes para eles, é a vez deles de imaginar a minha historia e tentar adivinhar os motivos de eu estar à beira do abismo.
  Apenas mais um passo, um único passo e eu serei livre. Minha ultima respiração, a ultima batida de coração, os últimos pensamentos idiotas, o ultimo pedido de misericórdia. O meu ultimo e primeiro sorriso verdadeiro.
   Eu gostaria de ter coragem o bastante, de ter esperança.
  Gostaria de ter feito tudo diferente.                                             
  Eu gostaria de mudar o passado e fazer o futuro diferente.
  Gostaria de poder viver, mas minha morte já foi escrita.

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