Palavras de amor.
Ela entrou na loja com um sorriso enorme, seus olhos
brilhavam como se estivessem vendo o maior tesouro do mundo. O velinho atrĂ¡s do
balcĂ£o entretido com um livro nem mesmo reparou na mulher que se aproximava.
Se esquecendo do verdadeiro motivo de estar ali ela passava
as mĂ£os por aquelas teclas, se apaixonando por todas as maquinas que ali se
encontravam. Era como se estivesse sonhando acordada, o melhor dos sonhos.
_ Com licença essas
maquinas estĂ£o para venda, certo?
Ela disse melodiosamente chamando atenĂ§Ă£o de um garoto que
estava nos fundos reclamando do velho mandĂ£o. O velho largou o livro e olhou
aquela garota na sua frente, alguns dizem que amantes de bons romances se
identificam um com outro, e foi isso que ele viu naquela pequena mulher que
tinha olhos tĂ£o profundos e uma possĂvel imaginaĂ§Ă£o enorme.
Ele assentiu mais vezes que o necessĂ¡rio e voltou a sua atenĂ§Ă£o
novamente para o livro, ela por sua vez se sentou em um banquinho velho e
quebrado, jogou a sua mochila de qualquer jeito no chĂ£o pegando de lĂ¡ de dentro
uma folha de papel branco e colocando na maquina de escrever preta e majestosa
a sua frente.
Um suspiro e milhões de idéias vieram na sua cabeça, e ela
nĂ£o conseguia escolher uma e nem mesmo sabia se poderia estar fazendo aquilo.
Mas nĂ£o podia resistir, era mais forte que ela. TĂ£o forte que Ă s vezes era mais
necessĂ¡rio que respirar, escrever era a sua vida.
Os olhos do rapaz estavam presos a ela, ao modo que os dedos
dela faziam mĂ¡gica naquelas teclas sem nenhum esforço, como as pequenas
palavras se tornavam significativas quando escrita por ela. Naquele momento ele
a viu escrevendo sobre ele, com essa mesma doçura, com essa mesma mĂ¡gica.
As palavras foram poucas, um ou dois parĂ¡grafos que
resumiram o amor dela em palavras tĂ£o sinceras que o fazia mais lindo do que jĂ¡
era. Ele duvidava do amor, dizia que sĂ³ acreditava vendo e que o dia em que uma
mulher roubasse o seu coraĂ§Ă£o ele faria de tudo para pegar de volta, nĂ£o
deixaria ninguém o fazer sofrer.
JĂ¡ ela venerava esse sentimento simples e incompreendido,
dizia que o amor e a dor andam de mĂ£os dadas e mesmo assim vale Ă pena. Dizia que
apenas aqueles que lesem os seus textos com o coraĂ§Ă£o conseguiriam entender
todas as palavras, enxergar todas as entrelinhas e ver todo o sentimento por trĂ¡s
de uma simples palavra, amor.
Ela levantou os olhos da maquina e passou por todas as
outras que se encontravam ali, ela tinha que escolhe uma e nunca se viu tĂ£o
indecisa. Seus olhos se encontraram com os do homem que a observava de longe e
sentiu palavras e mais palavras soltas naqueles olhos.
_ VocĂª poderia me ajudar? – ela disse com tanto carinho que
ele nem ao menos pensou duas vezes em ir a ajudar
Ele nĂ£o disse uma palavra e esperou que ela falasse do que
precisava, tinha medo de abrir a boca e despejar coisas que nĂ£o deveriam sair,
de estragar aquilo que nem mesmo havia começado.
_ Eu nĂ£o consigo
decidir qual delas levar.
Ela sorriu timidamente, um sorriso que seria impossĂvel se
encantar. Bochechas coradas, ela pĂ´s os cabelos atrĂ¡s da orelha e olhou para
ele tĂ£o apaixonadamente que ninguĂ©m diria que aqueles dois acabaram de se
conhecer.
_ Se imagine em sua casa, sentada a mesa escrevendo. Agora
qual dessas, vocĂª imaginou a sua frente?
Ela pensou um pouco com os olhos fechados, imaginando assim
como ele dissera para ela fazer. Segundos depois seu rosto se iluminou e ela apontou
para aquela preta que ainda tinha sua folha.
Ele sorriu pegou a maquina junto com a folha e levando para
colocar em uma caixa, ela o seguiu jĂ¡ com a mochila nas costas e a carteira na
mĂ£o. O velho continuava ali devorando as palavras como se fossem as suas
ultimas.
_ Bonitas elas, as suas palavras. – ele disse entregando a folha
de volta para ela.
_ SĂ£o a Ăºnica coisa que eu tenho.
Ela disse simplesmente. O seu coraĂ§Ă£o se acelerou, os dois corações
se aceleraram. Os sorrisos eram muitos, as palavras trocadas pelo olhar
infinitas.
Com a caixa na mĂ£o e tudo jĂ¡ pago, ela ameaçou ir embora
mesmo nĂ£o querendo, e ele implorou com os olhos para ela nĂ£o ir. Mas como dizem
tudo que Ă© bom um dia acaba.
_ Escreva para mim.
Ele disse quando ela jĂ¡ abria a porta. Uma esperança brotou
dentro de seu coraĂ§Ă£o, sabia desde quando botara os olhos nele que alguma coisa
havia mudado em sua vida, sabia que ele nĂ£o deixaria esse sentimento passar em
branco.
_ Mas eu nem sei o seu nome!
_ Isso se descobre depois, temos todo o tempo do mundo,
todas as palavras ao nosso dispor. Escreva para mim e eu prometo escrever de
volta.
Ela sorriu assentindo e prometendo no silencio dar a ele seu
amor em forma de palavras. Prometeu também contar a ele um dia que quando ela
se imaginou escrevendo, nĂ£o havia imaginado sĂ³ ela e sim ele tambĂ©m, ao seu
lado. Escrevendo para ela e com ela. Para sempre.
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