Cartas do espaço.
No meio do nada, 28 de novembro de 2050.
Querida irmã,
Eu me lembrei de você hoje. E
pensei porque não te escrever? Eu sei que faz tempo que não nos falamos e que
você ainda deve estar zangada por eu ter pegado o seu colar emprestado para
sempre, mas isso são águas passadas.
Eu gostaria que você estivesse
aqui comigo, esse lugar é maravilhoso. Sabe, a idéia de viajar no tempo e no
espaço não me parece mais tão assustadora, e estar aqui com ele faz tudo
melhor. A propósito eu acho que ele esta finalmente percebendo as minhas
indiretas, e logo você vai poder o chamar de cunhado (na frente dele).
Bom chega da minha vida amorosa,
eu sei que você deve estar morrendo para saber os detalhes das minhas viagens.
Então, a máquina que nos chamamos
de Charlotte com muito carinho é barulhenta e na maioria do tempo enfumaçada,
cheia de botões coloridos (daqueles que nos mata de vontade de apertar) e
alavancas. Mas ela é bastante aconchegante, e não pense que ela se parece com
um disco voador como você deve estar pensando! Isso chega a ser um insulto, não
somos aliens e não viemos de Marte, o povo de lá tem muito mais braços e mais
inteligência e eles viajam em pássaros gigantes, mas esta historia, fica para
outra carta.
E depois de muita turbulência
finalmente chegamos a Londres, no meio do século dezesseis e lá estava eu
de jeans e camiseta andando pelas ruas com um sorriso de orelha a orelha e me
lembrando de você. E tudo era tão lindo lá, como nos filmes.
As mulheres usavam aqueles vestidos
grandes que pareciam ser todos tecidos a mão, as jóias douradas e exageradas e
os cabelos para cima em todos os tipos de penteado, um mais estranho que o
outro. Já os homens usavam os paletós aveludados de cores vibrantes, e as tão
famosas cartolas que parecem bem mais engraçadas pessoalmente, e com as meias
por cima das calças que me rendeu boas risadas.
Da para acreditar que eles jogam cocô
pela janela? Eu quase fui acertada! Mas, voltando às coisas boas e bonitas,
depois de você parar de rir, é claro. Os campos daqui têm cheiro de morango, e
eu tive um piquenique maravilhoso na sombra das árvores, escutando a poesia de
Shakespeare e tomando chá, porque afinal seria errado ir à Inglaterra e não
tomar chá.
E depois de andar pelo lugar todo
e ficar impressionada pela paixão que eles tinham pela arte já era hora de nós
partimos. Eu me sentei na Charlotte me lembrando dos nossos planos quando
éramos criança de ir visitar Londres e morar nas casas que pareciam de boneca,
e quis que você visse essa nova Londres comigo, já que o nosso sonho nunca se
realizou.
No caminho de nossa nova aventura,
nos fomos obrigados a parar em um pequeno planeta para abastecer, em um pouso
não muito gentil que fez uma bagunça e tanta nas águas da cachoeira, nos
chegamos ao planeta chamado Sonare.
E lá viviam essas pequenas
criaturas que pareciam fadas, do tamanho de anões, com orelhas pontudas e que
ao invés de pronunciar as palavras, eles as cantavam. Era um lugar lindo, como
uma floresta encantada, essas pequenas criaturas dividiam o lugar com milhões
de outros animais e todos eles também falavam, ou seja, cantavam.
A melodia era tão bonita que
podia ser comparada com os sinos dos anjos (não que eu já tenho escutado, a maquina do tempo não chega tão longe assim)
e mesmo ficando ali tão pouco tempo, eles nos encheram de bondade e de
esperança.
Uma pequena menina com cabelos
cor de fogo que tocavam o chão me pegou pela mão dizendo que iria me levar para
conhecer o lugar. Ela era tão bonita com seus traços delicados e quando abriu a
boca para conversar comigo, a sua musica saiu em uma voz fina compassada que dava
inveja. Cantando ela me contou sobre Sonare, sobre a sua animação para
completar logo os dezenove anos e a rainha tocando seu grande piano que ficava
bem no centro do lugar, escolher para ela aquele que tinha a voz perfeita para
um dueto e que iria cantar com ela e ama - la para sempre.
Ária, que era o nome da menina,
falava sobre príncipes encantados e musicas que vinham do coração, dizia que o
seu destino e a sua vida estava escrito nos acordes do grande piano e que ela
cantaria a musica de sua vida como nunca cantara antes.
E
eu comecei a pensar na musica da minha vida, imaginar rimas bobas na minha
cabeça e Ária me obrigou a cantar para ela, minha musica tinha de tudo um
pouco, a garota da Terra que viajava entre planetas, que voltava na historia e
ia pro futuro, que tinha uma família tão amada, que tinha uma paixão secreta e
que adorava a sensação de sentir novos sentimentos, de viver um dia de cada
vez.
Minha voz saiu horrível, como
você já imagina irmã, nossos karaokês das festas de pijama sempre foram um
desastre, mas Ária amou a musica, saiu batendo nas folhas das arvores tirando
sons delas, batendo palmas e cantando junto comigo. E nesse exato momento
vários vaga-lumes vieram nos fazer companhia rodopiaram a nossa volta, em
quanto cantávamos a plenos pulmões girando e dançando e rindo como se não
houvesse amanha.
Não só Ária, mas todo aquele povo
me ensinou uma valiosa lição, me ensinaram a musica que vem do coração, me
ensinaram a dar valor vida e tomar as decisões certas porque você vai ter que
conviver com elas para sempre. Eles me ensinaram a musica da vida!
Eu me despedi tristemente deles,
mas o tempo estava passando e o nosso tanque já estava cheio. Essa é a parte
boa e a parte ruim de viajar tempo e espaço, conhecer todos esses lugares
incríveis que ninguém nunca, jamais poderá conhecer, mas ter que uma hora ir
embora.
E de novo eu estava pensando em
você. Uma das partes ruins das viagens também são as saudades, mas vale à pena
e eu poderia viver todos aqueles anos com você de novo, e passar todas as horas
que te devo conversando sobre as loucuras da mamãe, porque afinal mesmo se não
tiver tempo nos inventamos um.
E agora eu tenho que ir, porque
no meio do espaço colocar uma carta no correio se torna uma grande aventura e
graças a você e suas saudades eu posso vive-la. Me desculpe pela falta de fotos
e de cartões postais, mas eles estavam em falta. E não estranhe a data, essa
historia eu conto na próxima carta, mas saiba desde já que os restaurantes em
2050 servem a melhor mesa a dois para um primeiro encontro. Hoje a noite olhe
para o céu, eu estarei lá acenando das estrelas.
Sua irmã louca,
Aly.
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