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Como em uma peça de teatro.

By terça-feira, abril 08, 2014 , , ,


Por orgulho, ele fingiu não a ver do outro lado do restaurante. Pela honestidade, ele se forçou ao máximo para prestar atenção naquilo que a sua mulher falava com tanta convicção. Por impulso, ele se levantou dizendo que precisava de um cigarro. Por uma atração tão grande, uma paixão tão instantânea e impossível, ele a seguiu ate o lado de fora.
Ela procurou nos bolsos do casaco o seu isqueiro até lembrar que havia o deixado dentro da bolsa, no restaurante. Ele reparou a busca e o suspiro de desanimo, deu dois passos para o lado e ofereceu a sua chama. Ela levantou os olhos lentamente, com uma mecha de cabelo caída entre eles, tirou o cigarro da boca para sorrir em agradecimento.
Foi como se tudo houvesse dado uma pausa, aqueles segundos entre uma cena e outra. Aos olhos dele, o mundo havia parado par o dar o prazer de encarar mais os olhos dela sem que parecesse esquisito. Corta. Começo do segundo ato. Todos os atores de volta ao palco.
Mas não se tratava de uma peça de teatro. A não ser que, o drama tivesse decidido sair de quatro paredes.
- Eu acho que me apaixonei para você.
Ela juntou as sobrancelhas e olhou para ele com aquela cara de duvida. Ou ele seria muito ousado, ou estava de brincadeira com a sua cara, de todo modo à risada de desprezo que ele ganhou daria fim a conversa.
- Estou falando com você mesmo, se já não fosse casado, me ajoelharia aqui e agora para te pedir que todos os seus dias se misturem aos meus.
Silencio na plateia. Ele era sim ousado e louco, ela concluiu. Mas não pode deixar de assumir que cogitou a possibilidade de entrar em uma igreja.
- Tenho pena de sua mulher, se ela ao menos soubesse que o seu marido sai assim jurando amor e pedindo em casamento estranhas na rua, tenho certeza que ela ficaria louca.
-Pode ate ser a minha culpa, mas não consigo mais a olhar com os mesmos olhos, não como estou olhando para você desde que cruzou aquelas portas. Você ascendeu alguma coisa no meu coração, figuradamente falando.
- Homens de negocio, engolidos pela própria vida, destruídos pela luxuria e pela vaidade. Vá elogiar o vestido de sua mulher, ela com certeza merece.
O cigarro de ambos estava quase ao final. Ela tinha um gênio muito forte, um charme proposital e apaixonante, e ele parecia ter caído de bunda em uma armadilha fadada a dar errado.
- Não vamos ficar presos em apenas um assunto. Me conte sobre você.
Ela riu, e parecia que a plateia toda havia gargalhado com ela. Ele sabia que não chegaria a lugar nenhum, mas estava dando historia para ela contar as amigas, para a rua que já presenciou conversas mais estranhas do que essa.
- O que eu posso dizer, sem que os seus olhos críticos de 'homem vivido’ não julguem?
Nada. Não só por que ele era um homem vivido, e nem mesmo porque ele havia se apaixonado, mas sim porque ele era, infelizmente, um ser humano.
- Quem sou eu para julgar?
- Aquele que pede em casamento, mas não tem uma aliança.
Parecia estupidez, coisa do destino, ou qualquer outra coisa que se queira dizer sobre essas ironias que a vida supostamente é culpada por colocar à nossa frente, mas naquele instante ele pensou duas vezes e ela já havia tomado a sua decisão. Ele olhou para dentro do restaurante e se deu conta de que a sua mulher realmente não o merecia, ela merecia muito melhor, um daqueles românticos que compram flores.
Ela era tão cafajeste quanto ele.
-Agora que te encontrei, não preciso de mais nada.
Ele a puxou por sua cintura fina passou a mão pelos seus cabelos cacheados cheios, e levou o seus lábios ao encontro dos dela, pintados em um vermelho vivo. Sem nenhuma rejeição.
-‘Mas que seja infinito enquanto dure. ’
Ele disse com aquele sorriso esperto estampado no rosto, quase sem folego.
- Não recite poemas para mulheres como eu.
Essa questão de loucura era totalmente subjetiva, e ela segurou a mão dele quando ele ofereceu, e saíram juntos pelas ruas assobiando. Afirmando que o amor é fácil, e que deveriam ser aplaudidos de pé. 

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