Como em uma peça de teatro.
Por orgulho, ele fingiu não a ver
do outro lado do restaurante. Pela honestidade, ele se forçou ao máximo para
prestar atenção naquilo que a sua mulher falava com tanta convicção. Por
impulso, ele se levantou dizendo que precisava de um cigarro. Por uma atração
tão grande, uma paixão tão instantânea e impossível, ele a seguiu ate o lado de
fora.
Ela procurou nos bolsos do casaco
o seu isqueiro até lembrar que havia o deixado dentro da bolsa, no restaurante.
Ele reparou a busca e o suspiro de desanimo, deu dois passos para o lado e ofereceu
a sua chama. Ela levantou os olhos lentamente, com uma mecha de cabelo caída entre
eles, tirou o cigarro da boca para sorrir em agradecimento.
Foi como se tudo houvesse dado
uma pausa, aqueles segundos entre uma cena e outra. Aos olhos dele, o mundo
havia parado par o dar o prazer de encarar mais os olhos dela sem que parecesse
esquisito. Corta. Começo do segundo ato. Todos os atores de volta ao palco.
Mas não se tratava de uma peça de
teatro. A não ser que, o drama tivesse decidido sair de quatro paredes.
- Eu acho que me apaixonei para
você.
Ela juntou as sobrancelhas e olhou
para ele com aquela cara de duvida. Ou ele seria muito ousado, ou estava de
brincadeira com a sua cara, de todo modo à risada de desprezo que ele ganhou daria
fim a conversa.
- Estou falando com você mesmo,
se já não fosse casado, me ajoelharia aqui e agora para te pedir que todos os
seus dias se misturem aos meus.
Silencio na plateia. Ele era sim
ousado e louco, ela concluiu. Mas não pode deixar de assumir que cogitou a
possibilidade de entrar em uma igreja.
- Tenho pena de sua mulher, se
ela ao menos soubesse que o seu marido sai assim jurando amor e pedindo em
casamento estranhas na rua, tenho certeza que ela ficaria louca.
-Pode ate ser a minha culpa, mas
não consigo mais a olhar com os mesmos olhos, não como estou olhando para você desde
que cruzou aquelas portas. Você ascendeu alguma coisa no meu coração,
figuradamente falando.
- Homens de negocio, engolidos
pela própria vida, destruídos pela luxuria e pela vaidade. Vá elogiar o vestido
de sua mulher, ela com certeza merece.
O cigarro de ambos estava quase
ao final. Ela tinha um gênio muito forte, um charme proposital e apaixonante, e
ele parecia ter caído de bunda em uma armadilha fadada a dar errado.
- Não vamos ficar presos em
apenas um assunto. Me conte sobre você.
Ela riu, e parecia que a plateia
toda havia gargalhado com ela. Ele sabia que não chegaria a lugar nenhum, mas
estava dando historia para ela contar as amigas, para a rua que já presenciou
conversas mais estranhas do que essa.
- O que eu posso dizer, sem que
os seus olhos críticos de 'homem vivido’ não julguem?
Nada. Não só por que ele era um
homem vivido, e nem mesmo porque ele havia se apaixonado, mas sim porque ele
era, infelizmente, um ser humano.
- Quem sou eu para julgar?
- Aquele que pede em casamento, mas
não tem uma aliança.
Parecia estupidez, coisa do
destino, ou qualquer outra coisa que se queira dizer sobre essas ironias que a
vida supostamente é culpada por colocar à nossa frente, mas naquele instante
ele pensou duas vezes e ela já havia tomado a sua decisão. Ele olhou para
dentro do restaurante e se deu conta de que a sua mulher realmente não o merecia,
ela merecia muito melhor, um daqueles românticos que compram flores.
Ela era tão cafajeste quanto ele.
-Agora que te encontrei, não
preciso de mais nada.
Ele a puxou por sua cintura fina
passou a mão pelos seus cabelos cacheados cheios, e levou o seus lábios ao
encontro dos dela, pintados em um vermelho vivo. Sem nenhuma rejeição.
-‘Mas que seja infinito enquanto dure.
’
Ele disse com aquele sorriso
esperto estampado no rosto, quase sem folego.
- Não recite poemas para mulheres
como eu.
Essa questão de loucura era
totalmente subjetiva, e ela segurou a mão dele quando ele ofereceu, e saíram juntos
pelas ruas assobiando. Afirmando que o amor é fácil, e que deveriam ser
aplaudidos de pé.
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Luiza.