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Nada é proibido.

By segunda-feira, janeiro 06, 2014 , , , ,

             
                Ela andava no meio da multidão como se possuísse o lugar todo. Ela andava como um peso morto, um olhar esquecido no meio de tanta fumaça. E não era porque ela andava pensando no dia de sua morte enquanto todos os outros pensavam na rotina inacabável, que a tornava diferente. O fato de ela estar morrendo por si só a tornava uma estranha.
                Mas nem por isso ela era especial. O mundo não parou para vê-la quando ela reparou aquilo que ninguém se importava de reparar, o canto desafinado dos pássaros, aquela moça que parecia ter acabado de sair de uma capa de revista encarando de mais o vendedor de frutas, o amor solto no ar e a felicidade por mais subestimada que fosse se encontrava nos olhos de todos.
                Quando chegou em casa e ouviu todos os lamentos que precisava ouvir, tinha alguma regra escrita em algum lugar dizendo que as adolescentes com um tumor no cérebro e apenas duas semanas de vida precisava de comer panquecas na cama. Sua mãe ainda tinha os olhos meio vermelhos. Seu irmão evitava ficar sozinho com ela. E não se arrependia de ter desistido dos tratamentos para ficar junto daqueles que amava.
                Se apenas a morte fosse tudo sei que agora ela já teria aceitado tudo, mas era bem mais complicado que isso. Ela amava. E por incrível que pareça ele a amava também. Então ela formulou os fatos e achou três saídas para o seu amor encaixar em sua doença. Se dirigiu para casa dele como se não fizesse mau perguntar.
                - Se eu ficasse doente, doente de verdade e ter apenas duas semanas de vida e uma lista de coisas para fazer antes de morrer. Mesmo que essa lista fosse grande demais para quatorze dias, você faria comigo?
                - Sim, eu faria o impossível para você completar a lista. Mas qual é o motivo da pergunta?
                Ela era tão transparente que a mentira não conseguia passar despercebida e a ideia toda de o deixar decidir foi quase por água abaixo.
                - Hipoteticamente falando. Se eu não tivesse uma lista e a doença não me deixasse sair da cama?
                - Então eu não sairia do seu lado. Está tudo bem?
                - Sim está. Eu poderia terminar contigo por não querer que você me visse sofrendo.
                - Você não é forte o bastante para me tirar do seu lado.
                - Mas eu morreria, de verdade, caixão cor de rosa e tudo mais.
                - Primeiro que eu não creio que conseguiria viver sabendo que você está em uma situação dessa e não ficasse do seu lado para arrancar todos os sorrisos possíveis de você e segundo que eu te amo demais pra te deixar sozinha e terceiro que a pessoa vive eternamente dentro de você, então você continuaria ali comigo.
                O sorriso que abriu em seu rosto foi tão bonito e tão sincero que deixou a mona lisa no chinelo. E então decidiu não seguir nenhum desses caminhos porque o amava demais e era esse o motivo de ainda estar viva, e sempre seria o motivo de sua vida ter valido a pena.
                Decidiu viver os seus últimos ao lado dele, como a menina saudável que antes era, decidiu que conversaria com o irmão e tentaria tirar sorrisos da mãe todos os dias. E que andaria nas ruas como sempre andou, encarando ate aqueles que reviravam os olhos.  
                - Nada no mundo me faria deixar de te amar.
                Ele disse em voz baixa como se a ideia já tivesse sido comprovada.
                -O meu amor por você é maior do que qualquer coisa.
               Então eles se beijaram e ‘blá blá blá’ selando o curto para sempre, mas que valeria a pena.

                                                                                                         com Gabriel de Freitas.

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