Pedidos.
Cinco velinhas em cima do bolo. A sala de estar estava
abarrotada de pessoas sorridentes, batendo palmas, cantando a plenos pulmões uma
musica sem nenhum sentido, dando os parabéns para a menininha de vestido azul em
cima da cadeira e na ponta dos pés.
Os olhos de Lucky brilhavam
de animação, ela via aquela cena com o coração apertado, imaginava o sorriso
daquelas pessoas nos seus rostos todos os dias e não apenas ali diante dela. A musica
foi chegado ao fim, ela olhou para a mãe que inundava seu sorriso com lagrimas,
e ela falou para a garota fazer um pedido.
Ela pensou. Poderia
pedir uma boneca, ou um jardim enorme com rosas e um balanço, poderia pedir também
um urso gigante para ela arrastar pela casa a fora. Mas quando só se restaram
palmas e alguns gritos aqui e ali, e ela se inclinou mais ainda pare frente,
fechou os olhos, Lucky pediu para ser feliz para sempre e então assoprou as
velas.
O pedido dela não se
realizou, como as cartas nunca chegam para o Papai Noel e contos de fadas são
historias para crianças dormirem. Ela chorou e perguntou desesperadamente a mãe
nos meses seguidos porque o pedido dela não tinha se tornado realidade, e a mãe
sem ter idéia do que era, dizia que ela não havia pedido com vontade suficiente
e para Lucky tentar no ano que vem.
Ano após ano, Lucky
fazia o mesmo pedido, pedia a mesma felicidade e ele ainda se recusava a ser
realizado. Mesmo sem chances de sucesso, ela não desistia, sua mãe te disse uma
vez que tinha que pedir com muita vontade e ela se apegou nisso com a sua vida.
Hoje tinha quinze
velas no seu bolo. Na mesma sala de estar, só que desta vez não estava cheia de
pessoas sorridentes, apenas ela e sua mãe com as mesmas lagrimas copiosas. Ela fechou
os olhos, se abaixou na mesa segurando os cabelos e pediu.
Comeu o bolo, tirou
os pratos, e fico assistindo um programa qualquer que estava passando na televisão
ate a sua mãe pegar no sono. Lucky foi ate a cozinha pegou sua garrafa de vodka
de debaixo do armário e saiu rua a fora. Olhou para lua que formava um sorriso
e desviou os olhos, ate a lua ganhava felicidade e ela não.
Foi para a praia,
afinal não tinha mais nenhum lugar para ir. Se sentou na areia se entupindo da
bebida amarga, com os olhos fechados para escutar o som das ondas e desejando
que o mar se estendesse ate ela e a engolisse e acabasse de uma vez com aquela
grande piada, que ela chamava de vida.
- Dez vezes eu pedi.
E dez vezes você quebrou o meu coração. Como pode ser tão cruel e me privar da única
coisa eu preciso para viver? Não me faça pedir mais uma vez, posso não ter mais
forças.
O vento levou as
palavras dela, a brisa fria de inverno levou qualquer vestígio de que elas se
quer existiram, não tinha ninguém para escutar. Mais um gole, mais uma lagrima, e mais um
aniversario se passaram em um minuto bem diante dos olhos dela, sem que ela
realmente visse.
Lucky suspirou,
atirou a garrafa vazia no mar e deu meia volta com raiva de si mesma por estar bêbada
de novo ela se pôs a andar mesmo sem saber para onde estava indo. A lua ainda estava
lá zombando de sua cara, deixando ela mais irritada ainda.
Acharia seu caminho para casa com os olhos
fechados, viveria mais um ano e assopraria aquelas velas fazendo o mesmo
pedido, e esperaria a sua felicidade vir porque mesmo se ela estivesse bem na
sua frente, ela não conseguia ver. Era uma tola e precisava acreditar que alguém
a traria porque ela não conseguia fazê-la por si só.
Seus olhos se abriram
na esquina errada, quando ela trombou com alguém. Não se importou em pedir
desculpas, e nem em levantar a cabeça para ver quem era queria apenas continuar
o seu caminho. Mas, uma foto caiu do casaco da menina e ele se abaixou para
pegar e devolver, ou pretendia fazer apenas isso e não se maravilhar com ela.
Lucky achou sua felicidade nos olhos cor de
mel dele, e na foto que ele trazia em sua mão. A foto que ela sempre guardava
consigo, dela e da sua mãe, naquele seu quinto aniversario quando as velas já
haviam sido apagadas.
Eles trocaram poucas palavras, ela estava bêbada
e ele indo a uma festa. Trocaram olhares apaixonados, nomes, telefones e
promessas em minutos. Contos de fadas às vezes existam, afinal de contas.
Lucky chegou a salvo
em casa, se deitou com a sua mãe na cama como costumava fazer nas noites de
pesadelo, e adormeceu ali. A felicidade que ela tanto queria, estava ali na sua
frente e agora ela podia ver.
Ela perdeu tudo. Todos
os sorrisos e tudo aquilo que se importava, mas não havia perdido a esperança e
por mais bobo que seja o seu pedido ele se tornou realidade. A partir daquele
dia, o sorriso não saiu do rosto dela e nos outros aniversários, bom ainda
tinha muito que pedir...
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