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Pedidos.

By sábado, junho 23, 2012 , , , ,


  Cinco velinhas em cima do bolo. A sala de estar estava abarrotada de pessoas sorridentes, batendo palmas, cantando a plenos pulmões uma musica sem nenhum sentido, dando os parabéns para a menininha de vestido azul em cima da cadeira e na ponta dos pés.
  Os olhos de Lucky brilhavam de animação, ela via aquela cena com o coração apertado, imaginava o sorriso daquelas pessoas nos seus rostos todos os dias e não apenas ali diante dela. A musica foi chegado ao fim, ela olhou para a mãe que inundava seu sorriso com lagrimas, e ela falou para a garota fazer um pedido.
  Ela pensou. Poderia pedir uma boneca, ou um jardim enorme com rosas e um balanço, poderia pedir também um urso gigante para ela arrastar pela casa a fora. Mas quando só se restaram palmas e alguns gritos aqui e ali, e ela se inclinou mais ainda pare frente, fechou os olhos, Lucky pediu para ser feliz para sempre e então assoprou as velas.
  O pedido dela não se realizou, como as cartas nunca chegam para o Papai Noel e contos de fadas são historias para crianças dormirem. Ela chorou e perguntou desesperadamente a mãe nos meses seguidos porque o pedido dela não tinha se tornado realidade, e a mãe sem ter idéia do que era, dizia que ela não havia pedido com vontade suficiente e para Lucky tentar no ano que vem.
  Ano após ano, Lucky fazia o mesmo pedido, pedia a mesma felicidade e ele ainda se recusava a ser realizado. Mesmo sem chances de sucesso, ela não desistia, sua mãe te disse uma vez que tinha que pedir com muita vontade e ela se apegou nisso com a sua vida.
  Hoje tinha quinze velas no seu bolo. Na mesma sala de estar, só que desta vez não estava cheia de pessoas sorridentes, apenas ela e sua mãe com as mesmas lagrimas copiosas. Ela fechou os olhos, se abaixou na mesa segurando os cabelos e pediu.
  Comeu o bolo, tirou os pratos, e fico assistindo um programa qualquer que estava passando na televisão ate a sua mãe pegar no sono. Lucky foi ate a cozinha pegou sua garrafa de vodka de debaixo do armário e saiu rua a fora. Olhou para lua que formava um sorriso e desviou os olhos, ate a lua ganhava felicidade e ela não.
  Foi para a praia, afinal não tinha mais nenhum lugar para ir. Se sentou na areia se entupindo da bebida amarga, com os olhos fechados para escutar o som das ondas e desejando que o mar se estendesse ate ela e a engolisse e acabasse de uma vez com aquela grande piada, que ela chamava de vida.
  - Dez vezes eu pedi. E dez vezes você quebrou o meu coração. Como pode ser tão cruel e me privar da única coisa eu preciso para viver? Não me faça pedir mais uma vez, posso não ter mais forças.
  O vento levou as palavras dela, a brisa fria de inverno levou qualquer vestígio de que elas se quer existiram, não tinha ninguém para escutar.  Mais um gole, mais uma lagrima, e mais um aniversario se passaram em um minuto bem diante dos olhos dela, sem que ela realmente visse.
  Lucky suspirou, atirou a garrafa vazia no mar e deu meia volta com raiva de si mesma por estar bêbada de novo ela se pôs a andar mesmo sem saber para onde estava indo. A lua ainda estava lá zombando de sua cara, deixando ela mais irritada ainda.
   Acharia seu caminho para casa com os olhos fechados, viveria mais um ano e assopraria aquelas velas fazendo o mesmo pedido, e esperaria a sua felicidade vir porque mesmo se ela estivesse bem na sua frente, ela não conseguia ver. Era uma tola e precisava acreditar que alguém a traria porque ela não conseguia fazê-la por si só.
  Seus olhos se abriram na esquina errada, quando ela trombou com alguém. Não se importou em pedir desculpas, e nem em levantar a cabeça para ver quem era queria apenas continuar o seu caminho. Mas, uma foto caiu do casaco da menina e ele se abaixou para pegar e devolver, ou pretendia fazer apenas isso e não se maravilhar com ela.
   Lucky achou sua felicidade nos olhos cor de mel dele, e na foto que ele trazia em sua mão. A foto que ela sempre guardava consigo, dela e da sua mãe, naquele seu quinto aniversario quando as velas já haviam sido apagadas.
   Eles trocaram poucas palavras, ela estava bêbada e ele indo a uma festa. Trocaram olhares apaixonados, nomes, telefones e promessas em minutos. Contos de fadas às vezes existam, afinal de contas.
  Lucky chegou a salvo em casa, se deitou com a sua mãe na cama como costumava fazer nas noites de pesadelo, e adormeceu ali. A felicidade que ela tanto queria, estava ali na sua frente e agora ela podia ver.
  Ela perdeu tudo. Todos os sorrisos e tudo aquilo que se importava, mas não havia perdido a esperança e por mais bobo que seja o seu pedido ele se tornou realidade. A partir daquele dia, o sorriso não saiu do rosto dela e nos outros aniversários, bom ainda tinha muito que pedir...

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