Pedrinhas em sua janela. Era isso que inquietava o sono dela. Simples assim, apenas pedras, sem serenatas, nem musicas românticas e nem poemas melosos. Apenas as costumeiras pedrinhas na janela.

E ela não quis sair da cama, queria o deixar pegar frio e sereno, ficar doente, mas morrer não. O caminho ate a janela era curto e convidativo, mas ela já havia chorado, já havia sofrido, já havia se torturado, já havia tentado, e finalmente já havia esquecido.

E mesmo assim foi ate a janela e a abriu, quase sendo acertado por uma nova pedrinha, e o viu lá em baixo, galante como sempre, sem o sorriso no rosto, mas com as mesmas bochechas rosadas. Ele acenou e a chamou para descer com as mãos.

E uma guerra começou dentro dela, uma força sobrenatural a chamava para baixo, mas ela ainda hesitava, as suas poucas forças a impediam de descer. Ele venceu a batalha, e ela desceu as escadas aos tropeços, abriu a porta e caiu dentro do mar dos olhos dele.

Estava frio, ela estava encantadora aos olhos dele, com a sua blusa antiga do super homem grande o bastante para tampar a calcinha e as mesmas pantufas de vaquinhas. Os mesmos olhos baixos e braços cruzados. A mesma garota, o mesmo garoto, a mesma dor.

  _Me desculpe.  

Ele disse com a voz chorosa, chegando perto o bastante dela e escutando as suas lagrimas baixinhas misturadas com o som do coração que batia forte no seu peito.

  _Não. Eu já quebrei seu coração muitas vezes, você já quebrou o meu muitas vezes também. Já chega.

Ele pôs a mão nos cabelos dela, levantou os seus olhos que ainda estavam baixos e ficaram ali por um momento, afogados. Ela abriu a boca uma ou duas vezes, para mandá-lo a soltar, levantou a mão mais de três vezes para tirar a dele dos seus cabelos, mas não pode.

  _ E eu estou aqui pedindo desculpa por isso, por quebrar seu coração tantas vezes e para prometer nunca mais o quebrá-lo. Se lembra de quando nos conhecemos, você estava tão nervosa, tão triste e acabada que eu não consegui não me aproximar. Você havia dito que um fantasma tinha quebrado seu coração, eu disse que juntaria os pedaços dele e te faria amar de novo. Eu me tornei o fantasma, mas agora eu vou voltar a pegar os pedaços.

Os dois já choravam, ela se lembrava do dia infeliz e de todos os outros. Conhecer ele foi o seu pior erro, sua desgraça e salvou a sua vida.

  _ Eu não poderia amar de novo.

Ela se soltou dele, tomou a sua decisão. Iria fugir, porque não podia amar mais se o amor trouxesse tanta dor, ela sempre foi pequena de mais, nunca agüentou muita coisa. E um amor como esse a mataria depois de tanto torturar.

Ela deu dois passos para trás, ele deu dois passos para frente, ela virou de costas e ele a abraçou. Respirou no ouvido dela, a apertou em seus braços, fechou os olhos e desejou reparar os seus erros. Ela soluçou mais alto, colocou sua mão na dele, sentiu os seus arrepios de frio se misturarem com os dele.

Era para ser perfeito, mas não seria.

  _ Eu posso não poder voar, mas eu te levarei em aventuras. Eu posso não andar na velocidade da luz, mas se precisar de mim eu estarei lá. Eu te amo mais do que o universo pode provar. E não importa o que disser, eu não vou te deixar mais uma vez. Não vou quebrar o seu coração porque eu preciso dele para viver.

Ela parou de chorar, se virou de frente, olhou nos olhos dele e não se afogou, estava segura. Ela chegou perto de seu ouvido e sussurrou uma coisa, um segredo, que ninguém nunca soube e que fez aquele conto de fadas se tornar o mais belo de todos, sem mais corações partidos. 

* Feliz dia dos namorados cherries <3