Foi apenas um caso de uma noite. Mesmo que eu tenha usado sua blusa como pijama ou que eu tenha ficado para o café da manha você me via apenas como uma das outras. E eu como a desiludida que sou já sonhava com o nosso casamento, com você de terno e gravata e eu de véu e grinalda, imaginava o sorriso que nunca sairia do meu rosto e a sua felicidade que contagiaria ate aquele seu chefe chato.

Amor não é amor, paixão não é paixão ate que você diga em voz alta. Assim desiludida não conseguia ser menos realista e acreditar nesses amores a primeira vista, nunca conseguiria dizer eu te amo sem nem saber o nome de sua mãe mesmo sentindo com todas as forças.

Porque seus olhos me encantaram, sua lábia me levou ate a sua casa e seus dedos finos e gélidos tiraram peça por peça de roupa minha sem nenhum protesto, sou duvidosa a dizer que fomos feitos um para o outro, mas você sentiu que era verdade. Era como imãs, eu mexia e você respondia e nesse vai e vem cansativo você me levou a lua.

Eu sabia que meu perfume iria grudar na sua blusa e sabia também que você a colocaria para lavar naquela mesma tarde. Sabia que você era apenas mais um Dom Juan falsificado e barato e que nunca iria se apaixonar por uma que não ousaria em chegar aos seus pés.

E era difícil de acreditar que era caso de uma noite, que ele queria se satisfizer e que eu não o veria mais, e era mais difícil ainda de acreditar que eu estava gostando de um homem assim. A falta de vergonha que minha mãe sempre falou para eu não ter.

_ Eu te ligo.

Ele prometeu dando o ultimo de despedida de baixo da marquise do seu apartamento, enquanto eu corria desengonçada pela calçada ainda atordoada com o charme dele e atrasada para o trabalho. Ele prometeu aquilo que qualquer outro prometeria e que ninguém cumpre. Não seria tão difícil pegar o telefone e discar os números, e nem mesmo sair em um encontro, mas seria muito errado, quebraria o código.

E eu disse para mim mesma que não iria ficar desesperada esperando o telefone tocar, e que não iria deixar meu coração acelerar toda vez que tocasse, no entanto foi impossível de evitar. Não, eu não estava apaixonada e não eu não estava amando, eu estava simplesmente encantada.                           

Para dificultar a situação ou para deixá-la ainda mais clichê, eu queria um amor. Queria sonhar com um casamento que poderia realmente existir, ou dormir com a blusa dele todos os dias, queria beijos todas as manhas, tardes e noites. Eu queria me sentir completa, e queria a coisa verdadeira.

                Depois de toda falta de esperança que eu mesma me impus, um pessimismo forte e quase genético eu estava convencida que nunca iria o ver novamente, porque era assim que as coisas aconteciam quando a noite de diversão acaba.

E na manha seguinte eu já fazia planos para sair novamente, encontrar outro Don Juan e fazer a historia se repetir novamente, quando ele ligou.  E tudo mudou.